Referência ao texto fichado: Bourdé, G. &
Martin, H., “A Escola Metódica”. IN:As Escolas Históricas, Lisboa,
Europa-América, 1983. Pp. 97-118.
A corrente de pensamento historiográfico
chamada de metódica nasce com a proposta de
lançar sobre as pesquisas em história uma visão científica. Para tal, as
hipóteses filosóficas deveriam ter
deixadas de lado pelo profissional que escreve a história. Para alcançar o
objetivo ao qual se pretende, o historiador deveria utilizar técnicas que dizem
respeito aos inventários. Deveriam utilizar a crítica documental. G.Monod e
G.Fagniez, ligados a esta forma de pensar, fundam, no ano de 1876 a Revista Histórica, que pretendia publicar investigações
que fossem originais sobre os diversos períodos da história, era muito voltada
aos profissionais universitários que tinham contato com arquivos.A Revista
História diz-se neutra, entretanto vê-se claramente sua tendência a apoiar a
república francesa, o nacionalismo, a instauração de leis escolares. Os
metódicos chegam a fazer a elaboração de cartilhas escolares. Depois de alguns
anos da criação de A Revista Histórica, Charles-Vitor Langlois e Charles
Seignobos, historiadores ligados à Escola Metódica, dita positivista,
escreveram uma obra na qual definiram as regras que seriam voltadas à
disciplina de história. Deram o nome a essa obra de Introdução aos estudos
históricos. Langlois e Seignobos dão uma grande contribuição para a
objetividade e a cientificidade da história. Desconsideravam a teologia e a
filosofia da história . Ocorre, com os metódicos, uma verdadeira quebra
epistemológica,ao afastarem de suas análises o providencialismo cristão, o
progressismo racionalista e até o finalismo marxista. Para Langlois e Seignobos a história deve se deter
a aplicação de documentos. Eles se apropriam de pensamentos de Von Ranke, para
o qual o historiador deve ser passivo ao escrever a história. Consideram
vestígios dignos de serem utilizados como fonte histórica apenas os documentos
escritos.Documentos voluntários ( um decreto, por exemplo) tem grande valia. O
historiador, para eles, deve se preocupar muito com os documentos, uma de suas
tarefas prioritárias era a de justamente reconhecer os documentos e os proteger
para que não sejam destruídos. Para escrever a história o historiador deveria
usar um método de análise, permeado, claro, pela cientificidade. O documento
estando reconhecido e classificado, os historiadores, para fazerem sua
pesquisa, deveriam fazer uma série de operações analíticas. Começar-se-ia com a
crítica externa, crítica de erudição, na qual iria se identificar a origem do
documento, se é cópia ou não, se é falsificado ou não, etc. Depois fazia-se
necessária uma crítica interna que, grosso modo, seria saber o que o autor quis
dizer com o texto e quais suas intenções ao escrever ele. Se teve má fé ou não,
por exemplo.Depois viriam as operações sintéticas que aconselha-se seguir por
partes. Na primeira parte o historiador deveria fazer a comparação entre vários
documentos para se estabelecer fatos particulares, depois, na segunda parte,
deveria se isolar atos em questões mais gerais. Na terceira parte o historiador
deveria ligar os fatos, usando inclusive a dedução.Na quarta parte
selecionava-se fatos relevantes entre muitos documentos e na quinta fazia-se
algumas generalizações. A historiografia metódica privilegia muita a história
política, um exemplo disso é Ernest Lavisse que escreve uma obra que no próprio
título mostra a que veio: a obra tinha como título História da França, cuja
análise se deu a partir de uma ideia de Estado-nação. Lavisse é um homem muito
nacionalista. Republicano também, mas mais nacionalista. Ele privilegia, em
suas obras, aspectos políticos, militares e diplomáticos. A história escrita
por Lavisse, assim como a história escrita pelos metódicos de uma forma geral,
é a história dos grandes feitos, dos grandes acontecimentos, dos grandes
herois. A escola gratuita e laica veio com a Terceira República, na França. A
Escola Metódica participa desse processo. Criam materiais escolares que, claro,
deveriam fazer, entre outras coisas, com que os alunos sentissem grande amor
pela República. Lavisse chega a elaborar um grande manual de
história,intitulado Petit Lavisse ,
com 240 páginas. A história serve aí para defender um projeto político. A
classificação de positivistas que se dá a esta escola é inadequada. Os
metódicos desenvolvem muito mais seu método a partir de Leopold Von Ranke do
que do próprio August Comte.A história que se pretende positivista na perspectiva
de Comte é feita mesmo por L. Bordeau, que diz que a história deve desprezar os
acontecimentos singulares e os “grandes personagens” e é preciso dar
importância às multidões. Bordeau também defende princípios de filosofia da
história. O programa de Bordeau é diferente do que se tinha com os redatores de
A Revista Histórica, que dava muito importância ao fato, ao evento histórico em
detrimento de uma história mais das massas. Também não aceitavam uma filosofia
da história. Monod chega a afirmar que a história não passa de uma ciência
descritiva. De Von Ranke os seguidores da historiografia metódica tiram a sua
inspiração. Ranke apresenta alguns postulados/regras, para o historiador: a
primeira diz que o historiador não deve julgar o passado, só dizer o que realmente
ocorreu, a segunda diz que o historiador deve ser imparcial na percepção dos
acontecimentos, a terceira diz que o conjunto de res gestae existe em si objetivamente,já têm uma estrutura
definida, a quarta diz expõe que o historiador resgata o passado de forma
passiva, como um espelho reflete a imagem de um objeto. E a quinta diz que a
tarefa do historiador é reunir dados, documentos seguros. Qualquer reflexão
teórica é inútil. Surgiram alguns críticos a respeito deste modo de trabalhar
com a história.As principais críticas vieram dos historiadores ligados ao grupo
que dirigia a revista Annales.Chamaram a história metódica de historizante. Diziam que o documento não
devia ser apenas o escrito e voluntário, para os Annales testemunhos
involuntários também servem de fonte histórica. Criticavam a ideia de fixar-se
apenas em fatos singulares, diziam que também é importante compreender as
diferentes sociedades considerando a longa duração, diziam que a história
deveria levar em consideração não apenas questões políticas e militares, mas
também culturais, etc. Criticaram também o receio que tinham os metódicos de
empenhar-se em debates. No entanto a crítica dos Annales é relativamente
limitada.Deixam de levantar algumas outras questões, por exemplo a questão da
objetividade em história. Outros
movimentos também criticaram os metódicos, como foi o caso dos presentistas ou
relativistas que diziam que a história não é objetiva pois o historiador é
comprometido por questões de seu tempo, a história seria subjetiva. Os
marxistas também criticaram os metódicos, dizendo que o conhecimento é
produzido por um sujeito social comprometido com sua classe e seu tempo.Na
compreensão do passado deve-se levar em consideração todas as determinações
sociais.
Resumo que fiz para a disciplina de Introdução aos Estudos da História, quando fazia o 1º período do curso de História na UFCG