O seguinte texto foi produzido por mim no 1º semestre do meu curso e é uma espécie de fichamento/resumo do seguinte texto: REIS, José Carlos.O entrecruzamento entre narrativa histórica e narrativa de ficção. In: Diálogos Interdisciplinares entre Fontes Documentais e Pesquisa Histórica. APOLINÁRIO, Juciene Ricarte e SOUZA, Antonio Clarindo Barbosa (org.). Campina Grande, PB: Eduepb, 2011.
O
texto do professor José Carlos Reis vai tratar da concepção de história e
narrativa histórica presente no historiador Hayden White e no filósofo Paul
Ricoeur. Para o primeiro, White, a narrativa histórica é uma narrativa
literária e ele deixa isso bem claro em obras suas como “Meta-História” e
“Trópicos do Discurso”. Para ele os historiadores tem grande preocupação com
essa grande aproximação entre história e literatura, mas esquecem que nenhum
historiador consegue passar, a quem ler seus textos, o passado tal como
ocorreu. História, para White, é literatura e não ciência, e não é ciência,
inclusive,por que não é realista.
(Fonte da imagem: https://www.cafehistoria.com.br/historiador-hayden-white-morre-aos-89-anos/)
Os historiadores fariam representações de
representações. A narrativa histórica seria era uma construção imaginativa do
passado. Ele diz que não há motivos para que os historiadores se envergonhem
dessa relação íntima que têm a história e a literatura visto que literatura
também é forma de conhecimento superior. Não é apenas o conhecimento científico
que é válido. A narrativa histórica, pera White, é poética e sua linguagem é
figurativa. Para ele o historiador sempre escreveu de forma mais literária do
que científica, pois até mesmo os registros históricos são incompletos e são
obtidos apenas em forma de fragmentos. É o próprio estilo do historiador que
configura ele. Os acontecimento em si, são neutros, é a perspectiva adotada
pelo historiador que as torna trágicas, românticas, etc.
O filósofo Paul Ricoeur pensava de outra
forma.Para ele narrativa histórica era sim realista, mas também era literária.
O texto e o leitor têm papeis importantíssimos nessa sua análise. Para ele,
existiriam dois tipos de comunicação envolvendo as relações no mundo. Uma
primeira forma seria mediada pela fala, essa forma é bastante realista, é a
própria palavra viva. A outra forma seria a mediada pelo texto ( escrito). Para
Ricoeur, há nessa segunda forma uma relação de ausência entre a interação entre autor e leitor, pois o
leitor ler o que está lá, mas será se entende realmente o que o autor quis
dizer escrevendo aquelas palavras? Um texto faz referência a um texto, que por
sua vez faz referência a outros textos e nisso essa rede intertextual vem a
substituir a realidade tal como é. Para ele não se podia fazer do texto a própria
realidade, mas também o texto histórico não seria dotado apenas de imaginação.
Ricoeur propõe para a historiografia o caminho da semântica hermenêutica. Nessa
abordagem o texto não retorna 100% a si mesmo, mas não se restringe à suspensão
que faz do mundo. Restitui o diálogo,a comunicação.
Por meio dessa abordagem o
leitor passa a ser ativo. Ele interpreta o texto, se apropria dele. A
interpretação é atual, o texto “entra” na experiência vivida do leitor. O
leitor tem condição de limitar a dimensão ficcional e se liga à referência
externa, realista, controlável. Para Ricoeur o tempo vivido não é inarrável.
Para ele a narrativa seria ( também ) uma construção poética, mas que pode
oferecer o reconhecimento da “experiência vivida”. A narração histórica não diz
o que a realidade é, nem o por quê dela, mas como ela se dá. Ricoeur diz que
tanto literatura, quanto história tem uma função em comum: dar forma e sentido
a experiência vivida. Mas diz que ambas são diferentes. A historiografia,
diferente da literatura, coloca os personagens históricos dentro do tempo do
calendário, recorre a arquivos, documentos e vestígios, por exemplo. Tudo isso
torna o conhecimento histórico objetivo. Os vestígios garantem que alguém
esteve ali e agiu.
Segundo a análise de Ricoeur, para dar mais realidade na
reconstituição do passado elaborado a partir do presente, o historiador pode
adotar três atitudes: a primeira seria tratar o tempo como ele mesmo, buscando a reefetuação do
passado, a segunda seria tratar o passado como o “outro” ,o passado a partir desse olhar seria distante, muito
distante, inclusive e o historiador deveria adotar técnicas sofisticadas e
documentação serial. A terceira atitude era a de tratar o passado como sendo
“análogo”, exótico, mas ao mesmo tempo reconhecível. Entretanto para Ricoeur ao
olhar para o passado como sendo análogo, a narrativa histórica se confundiria
com a ficção. Ele então diz que o ideal é que o historiador não se fixe em uma
dessas três atitudes, mas que tente ligar elas. As narrativas históricas tem
certa realidade, pois têm objetividade. A interpretação histórica não é uma
“variação imaginativa”, por mais que utilize a imaginação: existem dados
exteriores que limitam o que se pode pensar de um evento histórico. A narrativa
de ficção não está obrigada às datas do tempo do calendário, à sucessão de
gerações, ao local dos vestígios.
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